Século XXI



- Pai, já estamos no século XXI – respondia a Filipa ao seu pai, depois de este recusar um pedido seu para dormir em casa de uma amiga.
Filipa tinha catorze anos e vivia apenas com o seu pai, pois a sua mãe tinha morrido ainda antes de ela ter completado três anos. Faleceu de cancro, mas, como Filipa nunca chegou a conhecê-la verdadeiramente, nunca teve nenhum trauma psicológico. Todavia, isto não aconteceu com o seu pai e este tornou-se muito proteccionista para com o seu familiar mais próximo, neste caso, a sua filha. A filha, um pouco farta, tentou fazer com o que pai se tornasse mais flexível. Os dois começaram a ir jantar mais vezes ao centro de Lisboa e assim, o pai, que foi vendo jovens em bares a divertirem-se apenas com os seus amigos, começou a perceber que vinha sendo demasiado duro com a sua filha. Depois deste arrependimento, Filipa começou a sair com os seus amigos e o seu pai, na verdade, sentia-se, feliz porque via a sua filha mais feliz e esta trazia esta imensa felicidade para casa.
O pai começou-se a aperceber que tinha que tentar ultrapassar a morte da sua esposa e abstrair-se do stress causado pelo seu trabalho. Depois disto ele começou a ir almoçar e tomar café com os seus colegas de trabalho, mas também com velhos amigos seus. Filipa ficou bastante surpreendida e um pouco confusa acerca de tudo isto, mas, depois de uma longa conversa com o seu pai, onde ele lhe explicou o que pretendia ao adoptar esta mudança de atitude, ficou mais tranquila e também contente pelo seu pai. Com o passar do tempo, o pai de Filipa foi conhecendo pessoas novas e começou a sair mais regularmente. Este facto despertou curiosidade em Filipa. Na verdade, ele conheceu uma senhora pouco mais nova que ele, que trabalhava no edifício ao lado da empresa dele. Era uma advogada, também viúva, que tinha uma casa em Lisboa, junto ao Tejo. Dias depois, tinham combinado um jantar seguido de uma ida a um bar para tomarem um copo e talvez dançarem um pouco. A filha, depois de ver o pai muito bem arranjado e dele lhe dizer que era capaz de chegar tarde, ficou boquiaberta e perguntou-lhe onde ia. O pai, lembrando-se de uma frase que a sua filha tinha proferido, respondeu:
- Vou sair com uma amiga. Porquê? Não posso? Pensei que já estávamos no século XXI.

Francisco Morais, Escola Secundária de Camões, 10ºH

Comentários

Anónimo disse…
ahaha, adoro a última parte, Morais. muito giro :)

Raquel Reynaud, 10ºE
mafalda disse…
está muito bem a história, gostei muito... trata de uma história real, mas nao muito pesada ;p

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