Esparsas
Para um
homem que passa muito tempo na estrada (demasiado tempo), o que o consola são
os CDs dos seus artistas preferidos e a voz carismática dos locutores de rádio.
Eugénio não
se afastava desta grande fatia da população - podia-se esquecer da carteira,
mas nunca abandonava os seus companheiros de viagem. Numa manhã como todas as outras, dirigiu-se ao
carro com um álbum na mão. Sentou-se, e, acompanhado pelo seu hábito
quotidiano, colocou-o no leitor – um movimento já quase involuntário. A
primeira faixa começou a tocar, e, olhando para a contracapa do disco, pousou o
seu dedo indicador sobre ela. Aleatoriamente, escolheu uma canção. O resultado
não pareceu aborrecê-lo: Just Like Heaven,
dizia. Avançou até ao número 7 e, segundos depois, começou a sentir as
vibrações que, rapidamente, se propagaram pelo carro. Colocou ambas as mãos
sobre aparelhagem e, de olhos fechados, deixou-se ficar.
Quando a
canção chegou ao fim, Eugénio ligou o carro e iniciou a rotineira viagem que
tinha como melhor parte, invariavelmente, o seu começo.
Apaixono-me
todos os dias. Seja por uma paisagem que me parece o paraíso, por uma árvore
que se entorta de forma engraçada, até mesmo por uma pequena flor, tão delicada
e vulnerável.
Não sou
indiferente ao mundo que me rodeia. Não consigo passar na rua e ignorar a
arquitetura incrivelmente geométrica de um prédio ou a montra de uma loja de
bolos; não consigo ignorar aquele desconhecido que me sorri, como que dizendo
"Bom dia!" - tenho de retribuir o gesto.
Quando me
encontro no meio do campo, sou feliz. Tenho tudo aquilo que preciso: um livro,
céu estrelado, flores e árvores que abundam, e tenho-me a mim. Posso pensar e
refletir, estou em paz. Nunca me senti mais apaixonada pela vida do que me
sinto nestes momentos.
Mariana M. Mateus, 12.º H
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