Divagações
Sete da manhã é, sem exceção, a hora a
que o dia começa para aquela moça.
Todos os dias sai para a rua,
mergulhando no frio de outono. As ruas estão praticamente vazias, apenas ela e
os sussurros da estação. As suas mãos permanecem enterradas nos bolsos do casaco
e o seu pescoço abraçado por um cachecol farfalhudo. Leva a cabeça ligeiramente
inclinada para a frente, de maneira a poder cobrir o nariz no volumoso
cachecol. A sua pele é quase tão branca como a neve, e os seus olhos azuis
acinzentados.
Mas a rapariga é algo peculiar. Sempre
que folhas secas ou uma poça de água da chuva cruzam o seu caminho, ela não
hesita em pisá-las com as suas pesadas botas pretas (outra característica muito
dela). Quando não tem o nariz enfiado no cachecol, tem-no apontado para as
nuvens. O céu cinzento, as árvores despidas e o vagaroso movimento das nuvens
captam a atenção daqueles grandes olhos azuis. Ocasionalmente, caem leves gotas
gélidas, mas nem há sinal de mudança no passo da moça ou sequer de um
guarda-chuva. O que seria uma inconveniência para muitos, era, para ela, a
felicidade do seu espírito.
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