Anjos
O vapor áqueo branco e gelado forma nuvens de
tristeza no céu escuro de fim de tarde. A chuva cai ligeira e incessante sob os
desolados braços de uma árvore morta, nenhum vestígio da grandiosidade do
passado. O solo cru e inóspito perde a luta contra o rio gelado, retraindo, com
medo, o véu da relva que sobreviveu à devastação do inverno. O líquido diáfano,
como uma caixa de Pandora, captura a vida, escondida do mundo como os anjos no céu.
Os olhos vítreos, com o azul da morte tão profundo
de tirar o fôlego. As faces brancas e destorcidas por uma beleza inatural. Com
a luz inquietante a sair das bocas pálidas, brilho enganador, aparência de uma
alma palpitante, desejosa de liberdade daquela linda prisão. Enquanto as asas
atrofiadas se debatem, tentativa inútil, a consciência vai empalidecendo.
Perdida a consciência do universo. Perdida a consciência de Deus. Perdida a
consciência de si. Resta só a consciência do fim, que cresce e se apodera dos
corpos em queda. A mortalidade os abana e eles estremecem. As plumas pesadas
pelos pecados as mãos inertes
A queda dos anjos no inferno da Terra. A
vida. A humanidade.
Carolina Blu Bassano Peixoto de Carvalho, 11.º K
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