Francisco



 

Numa tarde, quando o sol começara a descer lentamente no horizonte, dando ao céu tons alaranjados e dourados, estava  sentado na sua varanda Francisco. Um homem de 82 anos, que observava o movimento suave das árvores, e escutava o som abafado de um mundo que passava ao seu lado. A brisa da tarde soprava suavemente, acariciando a sua pele enrugada, marcada pelo tempo, como se estivesse a tentar lembrar-lhe dos momentos que havia vivido.

Ele olhou para as suas mãos calejadas, mãos que haviam trabalhado a terra, criado filhos, e que agora, apenas descansavam sobre o colo, sem pressa, sem obrigação. Era curioso pensar que, há não muito tempo, aquelas mesmas mãos estavam sempre ocupadas. Agora, o tempo parecia diferente, quase irrelevante.

Ele nunca parava de pensar na sua esposa, Luísa, e no seu sorriso que despertava alegria em todos os que o vissem. Eles viveram décadas juntos, criaram filhos, enfrentaram dificuldades, e apesar de tudo, ele percebia agora que talvez não tivesse aproveitado suficientemente o tempo que tiveram. As noites silenciosas em que ela lia um livro ao seu lado, os passeios simples pelo campo, o seu riso que ecoava pela casa. Tudo parecia tão distante, tão cheio de significado agora que ela já não estava mais ao seu lado. O que restava era a sua cadeira vazia ao lado da de Francisco.

O vento soprou mais forte por um instante, trazendo consigo o cheiro da terra e o som suave da natureza ao redor. Francisco suspirou. Havia uma paz naquela solitude, uma aceitação tranquila de que a vida havia sido o que tinha que ser. Ele sentia saudade, claro, mas também sentia gratidão. Gratidão por ter amado, por ter vivido, por ter aprendido, ainda que algumas lições só tivessem sido compreendidas tarde demais.

Francisco sorri, um sorriso sereno, enquanto a noite se começava a espalhar pelo céu. Ele havia encontrado paz. Não havia mais arrependimento, apenas uma aceitação tranquila daquilo que foi, e de que mesmo que o tempo à sua frente fosse agora muito mais curto que o que havia ficado para trás, tudo ficaria bem. 

Francisco fecha os olhos, e adormece, permitindo que o som da máquina que o mantinha vivo apitasse com o desacelerar do seu coração, e depois, com a paragem do mesmo. Francisco faleceu.

 

 

Mariana Carvalho, 12.º L

  

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