O que sobrou
Na escrita refugio-me das lembranças
de um passado ao qual não quero voltar.
É para aqui que fujo da linha da frente e dos olhares
do inimigo,
que me é suposto matar.
É a escrever que reprimo o medo de não saber
se o próximo passo é o último que irei dar.
Escrevo para escapar às noites que não terminam,
noites em que o silêncio pesa mais que as balas,
pesa mais que a culpa de viver, enquanto outros
partiram.
Palavra após palavra, tento lidar com a sua morte.
Verso após verso,
exprimo a mágoa de uma vida perdida em vão,
a angústia de ter sido a sua inspiração
e de ser para sempre a mão que abriu as portas da
guerra ao seu próprio irmão.
Andrew Jones (Heterónimo de Diogo Sousa, 12.º L)
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