Procuras Obscuras II




Enquanto observava os loucos palhaços, o menos tresloucado deles, olhou relutantemente, com o seu louco olhar, para os olhos do seu amigo, e disse:
-Alguma vez pensaste, se realmente és feliz?
O outro palhaço, com um enorme sorriso, respondeu-lhe:
-Mas que pergunta me fazes tu? Então, eu sou um palhaço, estou sempre a rir, é claro que sou feliz!
Eu, enquanto ouvia a conversa de ambos, pensava:
-Que pergunta idiota, qual o sentido de procurar respostas para questões impossíveis de responder?
Nesse momento, ainda pouco sabia deste meu mundo, era apenas um assustado novato. Apesar do meu espanto, com o tema de conversa, dos tresloucados palhaços, mantive-me interessado, então lá continuei, encostado à parede, apenas a escutar.
-Mas será isso felicidade realmente? Rirmo-nos de nós, dos outros, e de tudo o resto?- perguntou o menos tresloucado palhaço, ao outro, que começava agora a diminuir o seu tão enorme sorriso.
-Mas porque te questionas tu? Procuras sabedoria, ou felicidade?- Respondeu o mais tresloucado dos palhaços, nervoso, com as questões do outro.
Ao ouvir isto, rapidamente me refugiei, larguei o vento e os sussurros, e corri, corri sempre em frente, por ruas estreitas, assombradas pelas sombras, que as cobrem. Continuei a correr, cada segundo que passava, mais rapidamente eu corria, mais insano, mais tresloucado como os dois palhaços, que há pouco observava. Estas ruas, como já disse, eram estreitas, e deformadas, o seu pavimento estava coberto de longas, e profundas poças de água, devido às chuvosas noites, que todos os dias contemplo, continuei a correr, e a correr, e, de repente, tropeço no ar, escorrego na poça, e caio, no chão. Estou deitado, deitado no pavimento molhado, a olhar para o escuro céu, que está tapado, pelas enormes nuvens, que lançam, de segundo em segundo, milhares de gotas de água, que me batem na cara. Estas gotas, escorrem-me pela face, disfarçando as lágrimas do meu choro, do meu profundo choro de ignorância. Ao caírem, da minha face, para o meu tronco, as gotas, já de chuva, e já de lágrimas, descem, descem, e sempre continuam a descer. Eu, continuo deitado, na enorme poça de água, ainda maior, devido às lágrimas do meu profundo choro. Tanta solidão e tristeza, trouxeram-me a razão, finalmente percebi, finalmente entendi tudo. Levantei-me, com um salto, caí em cima da enorme poça, saltando pingos para toda a parte, e aí, eu grite:
-Xeque-mate!
Finalmente tinha resolvido o puzzle, a peça que me desencaixava do resto do mundo. Essa peça é, e sempre foi, pura e simplesmente, um objectivo, o meu objectivo. Jovem, eu era, e os meus ensinamentos, foram claros, procurar a resposta para a questão inquestionável: Existe felicidade? Não sei, mas esse é o meu objectivo, e, a partir de hoje, irei segui-lo, passo-a-passo, todos os dias, irei ficar mais sábio, e talvez, talvez um dia eu consiga encontrar a resposta. Por enquanto, irei continuar nesta sombria vila, talvez consiga iniciar por aqui, a minha busca. A busca pela resposta, da questão inquestionável...

Telmo Felgueira, Escola Secundária de Camões, 10ºE

Comentários

Anónimo disse…
uau, não há mais nenhuma palavra para descrever a expressão da minha cara. parabéns telmo.

ass.raquel

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