89 Dias de Outono
O ano passado escrevi o seguinte:
“O outono chegou. Sei-o porque consigo ver através
da janela uma grande nuvem cinzenta e gotas finas que marcam o ritmo desta nova
temporada. Sinto saudades do sol, do calor de ontem. Não me lembrei do outono,
dessa estação que antes me entusiasmava tanto. Mas ele veio, marcou presença,
exigiu importância (...)”.
Chamei àquele texto “O Primeiro Dia Cinzento”.
Este ano, o dia de hoje não é o primeiro, muito
menos o último. No entanto, também não é o outono. Faltam as folhas secas no
passeio, o sol morno... Foi tudo levado pela chuva crua do inverno – este ano
exigiu ser o protagonista, o sacana...!
Assistimos a algo invulgar: o vinho transformou-se
em água. Baco já não pode festejar a sua juvenil embriaguez...! Está recolhido
em casa, agora.
Nem deu tempo para acender a tal fogueira de fogo
brando – o vermelho, o amarelo, o castanho... Não houve espaço para o outono,
concluo, então.
E, lá no fundo, eu sempre gostei desta estação.
Sempre tão delicada, despindo-se com toda a vulnerabilidade... Não tinha nada
de velha, ela...! Este ano não teve tempo de se lançar ao amante; foi
simplesmente anunciada. Conveniências...!
Damos nomes às coisas, mas, quando estas mudam,
ninguém se lembra de os mudar também.
Ou será suposto ser assim?
Mariana Gomes, 11.º H
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