Abstrações



A importância que os valores constituem para cada um de nós pode ser considerada subjetiva, ou seja, é aceite que esta varie de pessoa para pessoa. Deste modo, é subjetivo como cada um deve encarar os valores e por quais se deve reger, uma vez que nenhum de nós possui o poder de declarar um valor absoluto. Por outro lado, os objetivistas defendem que há valores absolutos, ou seja, a importância que estes exercem sobre nós deve ser a mesma para todos e todos devemos encarar alguns valores da mesma forma, pois estes são invariáveis na sua aceitação de pessoa para pessoa.

Tomemos, como exemplo, o ato de matar, ou o valor da vida. Neste caso, um subjetivista defenderia que o valor da vida é subjetivo, e o ato de matar não pode ser considerado correto ou incorreto, uma vez que não cabe a ninguém o poder de julgar tal ato. Para um objetivista, no entanto, o valor da vida tem uma importância absoluta, que pode ser alta ou baixa. Um objetivista pode considerar a vida importante ou não, tendo assim o direito de considerar o ato de matar correto ou incorreto. Depois de raciocinar deste modo, cheguei à conclusão que, para vivermos em sociedade, é necessário que alguns valores sejam absolutos, apesar de nem todos o poderem ser. Se tal acontecesse, não haveria variedade na personalidade de cada um e concordaríamos todos uns com os outros.

A liberdade e a sua definição têm-se vindo a alterar ao longo dos anos. No tempo dos descobrimentos, quando a escravatura era praticada, o ideal de liberdade contido no pensamento dos escravos seria serem livres do seu amo, não terem de obedecer às suas ordens e poderem fazer tudo o que quisessem sem que isso lhes fosse proibido. Neste momento, pelo menos eu, não considero o mesmo liberdade. Para mim, ser livre seria ter condições (providenciadas pelo Estado ou fundos pessoais) para poder fazer o maior número de ações possível, ter o maior número de opções possível. Deste modo, o simples facto de não ter de obedecer a um amo não constitui liberdade para mim. O escravo, se analisarmos a situação, apesar de ser livre para não obedecer ao amo, não seria livre de comer o que quisesse, quando quisesse, pois não tinha meios (dinheiro, armas de caça, ou outros) para tal. Assim, quantos mais meios nos estão disponíveis mais atos podemos realizar e mais liberdade temos. Isto, claro, visto da posição de um objetivista que considera um valor (por exemplo da liberdade) como absoluto, logo com um conteúdo semelhante para toda a humanidade atual e objetivo ambicionado por todos. Um subjetivista defenderia que devido ao conceito de liberdade ser diferente para todos, não o podemos perseguir (apenas pessoalmente e não em comunidade).

A minha opinião em relação ao valor da vida eterna é difícil de definir uma vez que não há conhecimento de nenhum Homem que o tenha alcançado. No entanto, posso analisá-lo, como diz o título do texto, como uma abstração. Considero que a vida eterna é, até, alcançável, e não assim tão distante. A ciência tem vindo a desenvolver-se para que a nossa vida seja cada vez mais prolongada. Para tal, tenta alcançar a renovação constante das células sem que estas percam propriedades e nosso corpo nunca deixe de perder capacidade com a atualmente chamada velhice. Eu acho que o que leva muita gente a rejeitar a possibilidade de vivermos para sempre é o medo do desconhecido, pois não sabemos nada do que poderá acontecer após essa descoberta. No entanto, estou certa de que, tal como tem sido feito até ao momento, a sociedade e o sistema que a apoia adaptar-se-ia. Alguns podem argumentar que sendo imortais, deixamos de ser humanos, pois tudo está ao nosso alcance (visto que a morte é o que nos impede de realizar todos os atos enumeráveis). Como vejo as coisas, quando tal acontecesse, o conceito de ser humano estaria alterado ou não seria até importante termos esse rótulo, existirão outros para nos definir.

Depois desta reflexão devo acrescentar a importância que acho que devemos atribuir à história, que nos permite perceber se estamos demasiado presos em compreender a importância de um valor na atualidade, sem nos apercebermos da sua mudança ao longo dos tempos. Se há uns anos a maior parte das pessoas tinham uma certa posição em relação a um certo valor e agora quase todos nós temos outra em relação ao mesmo, então é possível que daqui a uns anos o que nós achamos reprovável seja aceite. Se ninguém se oporá a essa posição num futuro hipotético e tal mudança contribuir para o avanço da civilização e para vivermos todos melhor (como todos os avanços civilizacionais têm contribuído até agora), então, na minha opinião de absolutista e não subjetivista, é uma posição correta a tomar-se.

Julgo que a conclusão que tiro deste texto é que para mim, o valor que rege muitos outros e tem maior importância é o bem-estar da população, que provém da evolução humana. No entanto, valores como a vida ou violência são também absolutos, pois na minha definição de bem-estar, está contida a ausência de violência tal como a valorização da vida e condenação do ato de matar.

Margarida Honório, 11.º F

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