Tão longe e tão perto...
Cracóvia, 9
de setembro de 1939
Querida Leona,
Antes de mais, espero que esteja
tudo bem, tanto contigo como com a tua mãe. Tenho-vos incluído a ambas nas
minhas orações, assim como a todo o povo polaco que também é o meu.
Não imaginas como me tem custado não
conseguir escrever-te todo este tempo, mas como deves saber – provavelmente até
melhor do que eu –, a Alemanha invadiu a
fronteira oeste da Polónia há oito dias. Uma vez que, de acordo com o que te
contei na última carta, estava estabelecido em Wroclaw – uma cidade fronteiriça
–, tive que me juntar aos milhares que de lá saíram à pressa no dia 30 de
agosto, dia em que soubemos das invasões alemãs.
Dirigi-me, então, para leste,
debaixo do frio que já antecipa o inverno rigoroso.
Passados oito dias a andar, consegui
chegar a Cracóvia ontem, trazendo na bagagem a roupa que consegui recolher, o
dinheiro que estava a juntar para a passagem para Breslau e a tua fotografia
que me lembra do quanto te amo e me dá força para ultrapassar este “delírio” de
Hitler.
Durante a viagem para cá, falei com
alguns dos ditos “melhor informados” do grupo. Entre eles reinava a sensação de
que este é, como te disse acima, mais uma ilusão de Hitler. Bem, espero
sinceramente que isto seja verdade para assim poder voltar para Wroclaw dentro
de algumas semanas. Dessa maneira poderia voltar a juntar dinheiro para a
passagem para Breslau e assim poderíamos casar-nos no princípio da próxima
primavera, como falámos da última vez que aí estive.
Leona, eu sei que não apoias Hitler
assim como muitos outros alemães, não participes em manifestações que não
servem de nada e te podem causar problemas.
Às vezes, gostava de poder ser
alemão como tu para podermos viver em paz. Ainda assim, peço-te que tenhas fé
em mim.
Com amor,
Andrzej
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