Apontamentos de viagem



Vindos da civilização moderna e caótica da capital, mergulhámos na simplicidade rústica das serras. Envolvidos num manto, as terras moldadas pelas mãos de Deus emergiam magnificamente, revelando um novo, misterioso reino…
As nuvens dançavam pesadamente, abraçando a melancolia daquele céu negro e silencioso.
Por entre os caminhos sinuosos e húmidos das aldeias labirínticas, errávamos, contemplando as trilhas da vinha que vestiam os montes de cores outonais. Lá em baixo, o rio serpenteava entre as pedras finas e ásperas e enegrecendo as mangas. Ai! Paisagem inefável!
Fomos recebidos amavelmente por duas moças trajadas à moda do campo. Um aroma delicioso e subtil pairava sobre as fumegantes lamparinas incandescentes, que iluminavam aquele casebre sombrio e humilde. Passos apressados atravessaram a sala, fazendo ranger o soalho, sob o peso das disformes terrinas onde a canja rescendia.
Seguiu-se um imponente frango alourado acompanhado por um divino arroz de favas! Por fim, com um brilho no olhar, saboreámos um suave leite-creme dourado. Recuperámos as forças, aquecendo a alma junto à lareira flamejante granítica.
Prosseguindo a viagem, navegámos rumo a Tormes. A morada de Eça de Queirós, hoje transformada numa fundação, acolheu-nos no seu regaço revestido de hera intrépida e protetora. Percorremos, depois, os espaços da memória e revisitámos o passado, desvendando segredos e objectos pessoais do mundo de Eça.
Partimos a bordo do nosso comboio de estrada, após percorremos o itinerário queirosiano, e regressámos à metrópole tumultuosa.

Margarida Guilherme, 11.º J


Comentários

Mensagens populares