Janelas luzidias
Tinha o hábito de, em pequena, olhar as janelas iluminadas das ruas por onde passava. Via-lhes os candeeiros e os móveis comprados no Ikea, os quadros emoldurados, cópias dos originais de Picasso e Monet, ou desenhos infantis de adorados filhos e sobrinhos. Nas marquises, a roupa a estender e a desorganização de máquinas e objetos de limpeza que destoava com a organização de cozinhas e salas de jantar.
Observava estas moradias e sentia o intenso desejo de nelas viver. Não porque não apreciasse a minha própria casa, cujas janelas iluminadas entreviam paredes amarelas e almofadas de cores alegres. O que eu queria, verdadeiramente, era ser outro “alguém”. Para este efeito, nada me parecia mais propício do que mudar o principal cenário da minha existência. Despida das imutáveis paredes amarelas, não parecia complicado procurar uma nova personalidade e, deixando os erros do passado para trás, enveredar numa nova vida. O desejo de ser outro espelhado nas janelas luzidias.
Clara Lopes, 12.º J
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