O desejo de ser um outro
Quantos não desejamos já ser um outro
no desespero da noite escura
onde o coração aperta e o sol tarda em amanhecer
quando a mente está em alvoroço e recusa adormecer?
Quantos não sentimos já a ânsia de desertar de nós e ser
um outro, menos brando, menos profundo
um que não viva com a alma à flor da pele
e que não sinta a vida tão intensamente
um menos acordado, um mais inocente
um mais indiferente
E quando os anos findarem
talvez olhemos para trás, para um passado remoto,
desejando que fossemos um outro
que tivesse tido a coragem, que tivesse arriscado mais,
um menos conformado com os costumes formais
um outro mais leve, livre e com emoção,
que não tivesse o seu espírito indomável encarcerado numa prisão
Mas tarde seria, e o tempo não perdoa ninguém,
velhos seríamos, já conformados com o além.
Por vezes desejo ser um outro que não eu
ser mais simples, pacata, querer ter filhos e lar,
mas a vida é aventura e da coragem vou precisar.
Entre o desatino, a minha loucura me salvará da razão,
- vive céu, mar e montanha no meu coração.
Matilde Ventura, 12.º L
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