Uma chávena de café
Não há nada como um bom café. Nunca confiem numa cultura que não se reúne e observa a rua, muito menos sem uma negra chávena de café. A verdade é que desde pequena senti um pouco de desprezo em relação ao meu próprio país e aos seus costumes. O estrangeiro destacava-se como o palco exato para uma fuga, uma vida alternativa, na qual todos os meus medos e ansiedades se iriam lentamente dissipar. Contudo, quer para bem quer para mal, essa cega dependência desvaneceu-se e a realização de que o presente é o início e o processo de fundação dos sonhos tornou-se absurdamente óbvia.
Tudo isto, no entanto, retorna ao propósito e começo deste texto, o café. A própria bebida e a maneira e os locais onde é consumida não mudou desde a minha infância, o que se alterou foi a minha perceção. Quando nos focamos no que temos agora, acordamos para um novo mundo cheio de particularidades culturais que, no fundo, nos englobam numa identidade coletiva. Antes via apenas um espaço de lazer simples, nada de especial. Agora entra-me nas narinas o seu cheiro leve e caramelizado, observo, com curiosidade, a sua textura veludada. Mas, acima de tudo, presto atenção a este ritual tipicamente europeu e português. Com cada experiência, entranho-me por dentro deste maravilhoso mundo que a alma e espírito coletivo partilhado por todos nós é. Aprecio e valorizo a minha cultura e tudo isto sobre uma pequena chávena de café.
Maria Serpa Lourenço, 12.º K
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