A Inconclusividade das Coisas




  Tinha doze anos quando conheci a amarga sensação da inconclusividade. Estava numa festa de Carnaval da qual me lembro ter saído incomodada, pois não tirei dela o propósito que as minhas expectativas me mandavam tirar. Desde então, essa mesma impressão regressou diversas vezes, nas mais distintas situações, reduzindo-as a um quase. Quase que disse, quase que aconteceu, quase que senti.

  Com o tempo, desaprendi de deixar as coisas ir, na teima de as querer ver finalizadas. Tal postura seria facilmente traduzida em persistência. No entanto, parece-me mais honesto admitir que se trata antes de uma obsessão. A vontade de arrumar as conclusões na minha cabeça era tanta que muitas vezes era eu quem as forçava, tomando a atitude de precipitar o fim. Não queria cair nas manhas do destino, por isso, trocava-lhe as voltas.

  Mas depois vieram as coisas que eu não podia de modo nenhum pôr em causa. O seu proveito pertencia apenas a elas próprias e forçar a chegada do mesmo resultaria certamente na sua perda. Então tornei-me novamente impotente.

  Até hoje procuro a razão, a finalidade, o gosto do que me pareceu sempre tão crucial perceber e viver. As minhas medidas drásticas não me trouxeram esclarecimento. Afinal, sempre caí nas manhas do destino.

Inês Raquel Silva, 12.º H


  

Comentários

Anónimo disse…
Um texto com muita riqueza na sua lírica, um hino à escrita portuguesa. Fico muito agradecido por ter estes 3 minutos de prazer ao ler este texto

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