Outras direções





Um calor ofegante pairava sobre aquele imenso deserto. Uma estrada apenas, com um preto e cansado alcatrão, riscado e gasto da borracha de tantos pneus de carros que outrora haviam ali passado. E, enfim, deserta também essa estrada.
Depois de horas sob o quente sol que agora se punha, passava finalmente uma velha e barulhenta viatura, carregada de anos de bagagens e viagens. Ao fim de tantas horas à espera de um qualquer movimento, levantou-se da torrada amarela areia e fez sinal ao que então passava por si. Dirigiu-se a alguém que a chamava dentro do ruidoso e pesado carro: -Como saio daqui?
-Talvez como tenha entrado, deixe-me prosseguir caminho.
O carro arrancou, rapidamente desvaneceu deixando não um rasto mas uma nuvem de poeira que não mais a deixara vê-lo. Tudo lhe parecia inacabado, incessante. Não haveria modos de tomar caminho algum, tudo era igual, repetitivo, semelhante ao reincidido.
-Não saio daqui. Ou por não poder, ou por não conseguir. Hei de sempre ficar aqui presa.
O médico deu como terminada a sessão de terapia e chamou a enfermeira para levar novamente a paciente ao seu quarto. Nada a medicação tinha feito para lhe tirar os seus obsessivos e perturbados sonhos, dos quais não conseguia sair.
E ficava mais uma noite no hospital. E adormecia na mesma cama aconchegada com as suas febris visões.


Joana Belchior (pseudónimo), 12.º J

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