No mundo real
Aqui, no chamado mundo real, a separação entre o sonho e a realidade parece, ao longo de rigorosos anos, ter sido fortemente vinculada de forma a levar a acreditar que é uma barreira fixa e impossível de erguer. Contudo, na minha família, desde cedo, que me mostraram quão ténue é a linha entre estes dois mundos.
“Aproxima-te, não vale a pena recear” disse-me um dia a minha avó, sentada, calmamente, no chão da sala. Totalmente intrigada e absorvida pelo carácter misterioso que rodeava a habitualmente discreta mulher mais velha, sentei-me. “Fecha os olhos” repetiu na sua voz suave. “Consegues sentir?” Imediatamente confusa e surpreendida num só rápido e desesperado movimento abri os olhos. No momento em que as enigmáticas palavras da minha avó chegaram ao meu ouvido, com elas arrastadas apareceram, como flores na primavera, tremendas e múltiplas energias. De todos os lados uma calorosa luz entrou pelo meu coração e, de repente, compreendi tudo. Toda a luminosidade representava, de uma maneira literal, os sonhos de toda a população mundial. Tão forte e sincera, pois, como percebi pela primeira vez, entre os irrealmente belos sonhos e a baça realidade há uma simbiose da qual depende a vida. O mundo para o qual nascemos, o material e fixo, cobre-nos com um labiríntico manto que, para o bem ou para o mal, nos deixa angustiadamente cientes do caminho que percorremos. E, por isso, procuramos uma fuga do extremo real. Um espaço, sem paredes nem teto, que pelo leve pó de ambição, o qual preenche esta câmara de liberdade, enfeitiça as presenças errantes. O sonho e a realidade não se podem separar são a felicidade e a tristeza, a harmonia e o desequilíbrio, a alma e o corpo.
Maria Serpa Lourenço, 12.º K
Comentários
Continua com o bom trabalho! :)