A comoção aquando da emoção







Ontem telefonei à minha bisavó.
A voz doce,
carregada,
a cheirara a carqueja e a cardo
ecoou do outro lado da linha.
Ela estava estável e airosa
de voz,
assim como uma manhã de
primavera a seguir a um dia de chuva.
O crepitar da bata contra
o telefone,
lembrava o da braseira.
As perguntas de ocasião
foram-se esgotando,
meras máscaras de um
amor familiar incondicional.
E de repente,
instalou-se o silêncio.
Era um silêncio acolhedor e quente.
Praticavamo-lo sempre
aquando da chamada mensal.
Funcionava como uma sinergia
comotiva,
uma cadeia emotiva
mimeticamente organizada.
Passando a nostalgia
e a bondade,
chegava a saudade e o carinho quente
de uma manhã de Dezembro.
Aqui,
a comoção aquando da emoção
era transcendental, limpa e jovem.
Relembrando-me, assim,
do quanto gosto da minha bisavó.

Gonçalo Dias, 12.º F

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