Amar pessoas
Ao pensar numa maçã, ninguém saberá a maçã que eu estou a pensar. Ninguém
pensará a mesma maçã que eu estou a pensar. A minha maçã pode ser mais verde,
menos redonda ou mais vigorosa que a do outro que pensa na sua maçã. Assim, a
distância da maçã que imagino à folha onde formulo estas palavras é infinita;
nunca se irão tocar. Todos os meus pensamentos existem num universo paralelo
àquele em que interagimos e a matéria física vive. Este é a minha criação
grandíloqua , o meu primeiro e último romance, o meu vestígio mais vasto e
exíguo na ordem das coisas. É o meu universozinho, e poderá ser a única coisa
verdadeiramente minha durante toda a minha existência.
E é por esta razão que é tão delicado
amar; porque cada um carrega no seu íntimo um mundo só seu. Existem
pessoas desesperadas por o mostrar, outros que têm indefinido até que ponto
esse mundo tem voz, ou ainda, até que ponto estão dispostos a expô-lo. Para
além disto, colorimo-lo com emoções, que podem não compactuar com os mundos que
temos à nossa volta. O amor, certamente, é a maior aventura da humanidade;
Maior que os descobrimentos, que as guerras ou as revoluções que atravessaram a
história, aquela que inspirou mais poetas e arrebatou a arte. Se tivermos a
sorte do nosso mundo caber com o de outro alguém, temos que saborear esta
dádiva como crianças.
Mariana Ferreira, 12.º H
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