Rei Leão





                Estava destinado a ser grande. Fui abençoado com a dádiva da realeza.
                Não só isto me foi retirado, como também toda a minha vida roubada por alguém próximo de mim. Uma armadilha. Convencido do assassinato do meu pai. Posto fora de casa e empurrado para um mundo traiçoeiro.
                Sozinho a defender-me a mim próprio. Cada dia trazia um novo medo.
                Fui acolhido por dois párias psicopatas e alucinados. Eu era novo e não percebia o mundo deles. Fui forçado a comer coisas que não queria e a viver sob uma política que não compreendia e em que não acreditava. Estava certo de que já não havia qualquer esperança e que tinha sido devorado pelo mundo em que estes dois diziam que viviam.
                Ainda tinha o meu passado. Assombrava-me. Todos os passos que dava significavam uma dor tão profunda que fazia os meus ossos doer. Sentia-me livre, mas, ao mesmo tempo, longe disso.
                Por fim, trouxeram-me de volta. Fui salvo das torturas do deserto. Antes de ter partido, a minha vida anterior tinha-me sido retirada. Invadida por um exército. Fui afastado das pessoas com quem vivia e amava, da terra que estava destinado a liderar.
                Quando voltei, enfrentei uma vida de que já não me lembrava. Sabia, no entanto, que nunca tinha sido assim A guerra estava a esmurchar e a terra estava estéril. O homem a quem chamam rei e a quem eu chamava família já não me pertence.



Mariana Negrão, 12.º  H

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