O Tempo das Incertezas
Eu lembro-me de ser
criança e acreditar na eternidade das coisas. Naquela altura em que os pais
eram os heróis que sabiam tudo e os monstros ainda viviam debaixo da minha
cama, eu fiava-me inocentemente na crença de que demoraria uma eternidade para
crescer.
Nunca fui de embarcar em grandes fantasias do
tipo convencional. Nunca acreditei no Pai Natal, nem na Fada dos Dentes. No
entanto, os fantasmas e os monstros não me pareciam descabidos. Assim, nunca
quis ficar à espera do velho das barbas brancas, mas sempre quis companhia para
adormecer.
Vejo agora que a minha eternidade passou. As
coisas tomaram a sua posição aparentemente definitiva sobre mim e as
responsabilidades ganharam tamanho. Pesa-me o que sei e preocupa-me o que não
sei. As dúvidas já não têm resposta imediata e a falta de sentido em tudo
atormenta-me. Quero à força atribuir significados às coisas. Se não os
encontro, só pode ser sinal de um mal maior. Não sei viver na idade que tenho.
Quero a altura em que obtenho as respostas ou então a parte em que as perguntas
não surgiam se quer. Se bem que já me avisaram que as perguntas serão sempre
mais e, por conseguinte, nunca terei resposta para tudo.
O que eu queria realmente era chegar ao ponto
em que eu e as minhas incertezas pudéssemos conviver em harmonia. Elas seriam
curiosidade e entusiasmo em vez de todo o medo que são agora. E eu seria
confiança e paz de espírito, em oposição a toda a ansiedade à qual me vejo
pertencer.
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