Evasão




Pão com manteiga não chega. O que tenho não é fome; o que está vazio não é o estômago, mas é mais fácil de encher do que aquela que não é pequena se tudo vale a pena.
A cozinha torna-se apenas um prazer reconfortante. Enquanto a comida preenche, a imaginação alarga à procura de outras satisfações.
Paul Gaughin, uma dessas almas sensíveis que por sentirem mais, procuram mais, partiu há anos. Partiu com certeza ciente do perigo que corria. Se romper com a civilização foi possível para Gauguin, que sem alguma garantia partiu para as ilhas do Taiti em busca do que faltava, fosse o que fosse, então qualquer um pode tentar preencher-se; ao menos tentar. A sua estadia selvagem e primitiva a conviver com nativos despertou em Paul a vivacidade reprimida pelos anos burgueses em Paris. A sua pintura ganhou a brutalidade tão presente na Natureza de que vivia rodeado. A liberdade com que investia em cada pincelada compensava todos aqueles retoques contidos no seu estúdio parisiense. Paul Gauguin mostrou que é possível seguir outro caminho.

É frustrante que não seja frustrante o suficiente. Saber que, por algum motivo, por algum tipo de apreensão sofrida, ela é pequena e às vezes parece que há coisas que não valem a pena.


Margarida Honório, 12.º F

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